domingo, 9 de setembro de 2012

No trabalho...

Gosto muito de ler os blogs de outras famílias ou de futuras famílias homo, para adquirir informações, analisar suas experiências, mas principalmente saber o que pensam e como agem diante de situações que para mim ainda suscitam dúvidas.
Muitos podem achar o que irei relatar uma besteira, e talvez o seja, mas se estivessem no meu lugar poderiam ter as mesmas dúvidas. Tenho vergonha de comentar sobre essas minhas "fragilidades" com outras pessoas, e às vezes acho que não devo comentar porque dariam saídas ou explicações superficiais, que em nada acrescentaria.
Pois bem, me assumir lésbica para amigos e família não foi algo difícil, foi algo quase instantâneo, talvez porque eu soubesse que me amavam e portanto não me excluiriam das suas vidas. Mas tenho um grande problema em assumir minha identidade no trabalho. Isso me incomoda muito, é uma barreira que não consigo transpassar, mas sinto que necessito. Até porque não sou uma, sou duas, sinto-me duas e já já seremos três. E quando isso acontecer, quero me sentir livre. Escrevo nesse momento com a garganta presa, de quando se quer e ao mesmo tempo não se quer deixar as lágrimas escorrerem. Não sei com agir diante disso. Sou extremamente feminina e ainda não encontrei até hoje um gaydar que acertasse em relação a mim.
Mama B, ao contrário, é masculinizada, e fica muito fácil para ela ser o que é, pois não precisa falar, ela é, simplesmente é. Todos sabem, seu patrão sabe e interage conosco como uma família. Quando vamos a uma loja ou precisamos negociar algo, somos tratadas como casal, por verem nossas alianças e também porque é nítido.
Mas no trabalho, além dos dois colegas mais próximos, acredito que ninguém saiba de mim. Incomoda-me saber que as pessoas não sabem que sou gay. E daí me pergunto se todos precisam saber que sou gay e casada com outra mulher, desde funcionários a usuários assíduos da instituição. Seria necessário?
Talvez a resolução seria usar indefinidamente uma camisa com os escritos: Sou lésbica, sou casada com outra mulher. Ou desenhar em letras garrafais essas informações no meu facebook. O boato se espalharia.
Mas por que me incomodo tanto com isso?
Quando alguém me pergunta se sou casada, se tenho alguém....e esse alguém é do meu trabalho, não sei como agir. Como você agiria? Essa não é a pergunta correta! Imagine como se sentiria e consequentemente agiria se tivesse tudo o que tenho, fosse tudo o que sou. Não estou falando em bens materiais ou diplomas, isso pouco importa, estou falando da história da minha vida. Realmente, nessas horas gostaria de ser adepta dos cabelos curtos e tênis. Seria mais nítido? Com certeza não haveria tantas perguntas.
Nessa semana fui convidada para uma festa de aniversário da filha de um colega de trabalho. Foi a primeira vez que isso aconteceu, visto que estamos morando aqui há 6 meses apenas. Pois bem, falei a ele que levaria outra pessoa. Quando lá cheguei, apresentei Mama B, percebi que muitos olharam com ares de análise, mas isso é normal visto que é necessário alguns segundos para identificar se ela é mulher ou homem e isso acontece com frequência em qualquer lugar, já estamos acostumadas e isso não me incomoda de forma alguma. Sei que minha esposa é linda e andrógina, adoro que ela seja assim, me orgulho de ser sua esposa. Meus colegas interagiram com ela, foi normal...eu sabia que seria normal e eu queria inserir a Mama B no meu ciclo de amizades do trabalho. Porquê? Porque quero ser como todas as outras pessoas. Porque a Mama B precisa disso. Porque em um futuro bem próximo não seremos somente duas, seremos três...e nosso filho precisará frequentar festas de aniversário, viver normalmente.....e nós duas estaremos lá.
Meus parabéns mais sinceros se você não precisa mais ter este tipo de preocupação simplória, ainda estou tentando passar esse nível do jogo.

Abraços da Mama C

3 comentários:

  1. Olá, gostei muito do tema. Olha, no trabalho prefiro me manter mais reservada. Não é questão de esconder ou dissimular, acho que é questão de afinidade mesmo, de não ter encontrado pessoas que me inspirassem a compartilhar mais a minha vida, isso em diversos aspectos, não apenas relativos à minha condição conjugal. A princípio contei apenas para uma colega e tive que ser muito didática e paciente. Quase me arrependi, porque apesar da fachada "liberal e progressista", ela ficou realmente muito impressionada (risos). Depois de superado esse "contratempo", decidi que só contaria a quem demonstrasse interesse sincero na minha vida (não apenas curiosidade ou especulação). Aconteceu com o presidente e foi uma experiência bem legal. Não sei se eles dois guardaram "segredo", mas de todo modo acredito que muitos já desconfiem. Se conseguirmos registrar o nosso filho no nome de ambas, todos vão ficar realmente sabendo, não sei exatamente como vai ser, mas vou procurar enfrentar naturalmente. Ainda não sei exatamente o que direi sobre me tornar mãe, já que, pelos nossos novos planos, não vou engravidar. Talvez a princípio eu diga apenas que vou adotar e escolha colegas mais próximos para dividir a história. Ou talvez eu tenha mesmo que assumir alguma postura mais clara, eu realmente não sei. Desconfio que sim porque a chegada de uma criança é algo que toca e mobiliza muito uma comunidade. Mas é com os nossos amigos, com os quais temos verdadeiras relações de afeto e proximidade, que o nosso filho vai conviver. Então, por tudo isso que eu te disse, eu não vejo o meu ambiente de trabalho como uma grande referência de convívio para a minha família. O tempo vai dizer se estou certa. Um beijo, queridas, e boa sorte na caminhada de vocês

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    1. Olá, obrigada por dividir teu ponto de vista e experiência conosco. Isso ajuda muito. Abraços a vocês e boa sorte!!!

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  2. Oi... Posso te falar um pouquinho de minha experiência. Assumi no trabalho enquanto estava na relação passada, foi muito tumultuado, até pq eu tinha saído de um casamento hetero e a principio tds pensam q eu devia ter sofrido muito com ele para não querer saber de homem. Engraçado como as pessoas me fragilizaram e até um colega de trabalho, que na época era mt próximo de mim, desenvolveu uma espécie de amor platonico. Aos poucos fui me mostrando madura na decisão q fiz e quando me questionavam sobre meu ex nunca me aproveitei da "imagem" que eles criaram sobre essa história, sempre contei a verdade dentro do limite do que desejo que "colegas de trabalho" fiquem sabendo. Minha ex era uma mulher mt fechada e pouco convivíamos com meus colegas em outros ambientes que não fosse no trabalho. Quando comecei a relação com a Angela, todos já sabiam sobre mim e foi bem mais simples, apenas precisei apresenta-la pelo nome e ficou sub-entendido que éramos namoradas. Hoje todos adoram ela, quando tem festa me convidam e já avisam que adorariam a presença dela tbm, Angela é mais comunicativa e fez uma amizade carinhosa com todos, minha chefe sempre fica de olho em mim para que nenhuma outra mulher me paquere e quando percebe algo logo depois me chama e diz que devo levar meu relacionamento muito a sério. Me divirto com a relação que tenho com todos, agora com a chegada de colegas novos de banco foi ainda mais tranquilo, eles já entram e por perceberem nossas conversas sobre família, dia a dia, percebem rápido que sou casada com ela e ragem com naturalidade. Tudo depende muito da forma com que vc se vê numa relação homo, se para vc é natural o processo de entendimento dos outros será mais fácil, lógico que enfrentará preconceitos, mas isso temos que encarar em qualquer lugar. Sempre.

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