sábado, 22 de setembro de 2012

Medo

Desde a semana passada venho sentindo dores ao esforço na região inferior do abdómen. Nunca senti uma dor como essa. Acho que é em alguma parte do aparelho reprodutivo, mais especificamente no útero. Mas minha mãe teima em dizer que não há dor no útero, dessa forma. Estou com muito receio de que seja endometriose, pois minhas irmãs a tiveram, além de outras complicações similares, e não conseguem engravidar. Fiquei com muito medo de não poder engravidar. Mama B tentou me acalmar dizendo que se eu não puder, assim como várias outras mulheres da família, poderemos adotar. Sei que isso também seria maravilhoso, mas gostaria muito de ter um bebê. Nesta semana marcaremos o ginecologista. Deus queira que não seja nada. Abraços a todos.

Mama C

domingo, 9 de setembro de 2012

No trabalho...

Gosto muito de ler os blogs de outras famílias ou de futuras famílias homo, para adquirir informações, analisar suas experiências, mas principalmente saber o que pensam e como agem diante de situações que para mim ainda suscitam dúvidas.
Muitos podem achar o que irei relatar uma besteira, e talvez o seja, mas se estivessem no meu lugar poderiam ter as mesmas dúvidas. Tenho vergonha de comentar sobre essas minhas "fragilidades" com outras pessoas, e às vezes acho que não devo comentar porque dariam saídas ou explicações superficiais, que em nada acrescentaria.
Pois bem, me assumir lésbica para amigos e família não foi algo difícil, foi algo quase instantâneo, talvez porque eu soubesse que me amavam e portanto não me excluiriam das suas vidas. Mas tenho um grande problema em assumir minha identidade no trabalho. Isso me incomoda muito, é uma barreira que não consigo transpassar, mas sinto que necessito. Até porque não sou uma, sou duas, sinto-me duas e já já seremos três. E quando isso acontecer, quero me sentir livre. Escrevo nesse momento com a garganta presa, de quando se quer e ao mesmo tempo não se quer deixar as lágrimas escorrerem. Não sei com agir diante disso. Sou extremamente feminina e ainda não encontrei até hoje um gaydar que acertasse em relação a mim.
Mama B, ao contrário, é masculinizada, e fica muito fácil para ela ser o que é, pois não precisa falar, ela é, simplesmente é. Todos sabem, seu patrão sabe e interage conosco como uma família. Quando vamos a uma loja ou precisamos negociar algo, somos tratadas como casal, por verem nossas alianças e também porque é nítido.
Mas no trabalho, além dos dois colegas mais próximos, acredito que ninguém saiba de mim. Incomoda-me saber que as pessoas não sabem que sou gay. E daí me pergunto se todos precisam saber que sou gay e casada com outra mulher, desde funcionários a usuários assíduos da instituição. Seria necessário?
Talvez a resolução seria usar indefinidamente uma camisa com os escritos: Sou lésbica, sou casada com outra mulher. Ou desenhar em letras garrafais essas informações no meu facebook. O boato se espalharia.
Mas por que me incomodo tanto com isso?
Quando alguém me pergunta se sou casada, se tenho alguém....e esse alguém é do meu trabalho, não sei como agir. Como você agiria? Essa não é a pergunta correta! Imagine como se sentiria e consequentemente agiria se tivesse tudo o que tenho, fosse tudo o que sou. Não estou falando em bens materiais ou diplomas, isso pouco importa, estou falando da história da minha vida. Realmente, nessas horas gostaria de ser adepta dos cabelos curtos e tênis. Seria mais nítido? Com certeza não haveria tantas perguntas.
Nessa semana fui convidada para uma festa de aniversário da filha de um colega de trabalho. Foi a primeira vez que isso aconteceu, visto que estamos morando aqui há 6 meses apenas. Pois bem, falei a ele que levaria outra pessoa. Quando lá cheguei, apresentei Mama B, percebi que muitos olharam com ares de análise, mas isso é normal visto que é necessário alguns segundos para identificar se ela é mulher ou homem e isso acontece com frequência em qualquer lugar, já estamos acostumadas e isso não me incomoda de forma alguma. Sei que minha esposa é linda e andrógina, adoro que ela seja assim, me orgulho de ser sua esposa. Meus colegas interagiram com ela, foi normal...eu sabia que seria normal e eu queria inserir a Mama B no meu ciclo de amizades do trabalho. Porquê? Porque quero ser como todas as outras pessoas. Porque a Mama B precisa disso. Porque em um futuro bem próximo não seremos somente duas, seremos três...e nosso filho precisará frequentar festas de aniversário, viver normalmente.....e nós duas estaremos lá.
Meus parabéns mais sinceros se você não precisa mais ter este tipo de preocupação simplória, ainda estou tentando passar esse nível do jogo.

Abraços da Mama C

Dilema

O sonho da maternidade é maior que o meio pelo qual chegar a ela. Por isso, eu poderia adotar, fazer inseminação artificial usando meu óvulo ou da Mama B, usando óvulos de outra doadora caso fosse necessário, etc... A Mama B compartilha desse mesmo pensamento e sentimento, entretanto, sempre tive receio de que quando o bebê nascesse, não sendo do óvulo dela, ela não se sentisse mãe, não sentisse o amor incondicional que uma mãe tem. E eu jamais poderia incutir nela esse sentimento. Devido a isso, sempre busquei o caminho da ovodoação (óvulos da Mama B), mesmo tendo capacidade de usar os meus, normalmente.
Assim, nessas semanas que estive longe do blog, parti em busca de clínicas, informações, relatos, tudo...e o valor do tratamento realmente me deixou aflita. Podemos sim pagar pelo tratamento, mas sabemos que a possibilidade de este não dar certo e perder todo o dinheiro e o sonho, existe. Por isso, expliquei a Mama B tudo o que pensava, tudo o que havia encontrado de infromação...mas ainda assim ela falou: "Vamos tentar mesmo assim." e "Gostaria muito que tivéssemos um filho dessa forma, meu e teu." Isso me fez deixar o assunto um pouco quieto aqui em casa, pra poder refletir melhor sobre tudo. Eu realmente achava que poderíamos ter com uma inseminação caseira, pois seria mais fácil, mas não queria tirar o sonho da Mama B. Foi quando em uma bela tarde, após o trabalho, ela chega e diz: "Eu quero, quero sim ter um filho com você da maneira que for, pois de qualquer forma ele será NOSSO filho." Fiquei muito feliz com a decisão dela, pois em nenhum momento a instiguei àquilo, mas mesmo assim ela percebeu que ele será nosso, seja como for.
Assim, decidimos que teremos um bebê usando meu óvulo, sêmem de doador anônimo, em uma clínica... mas usando inseminação simples. Pretendemos, depois de uns três anos da primeira gestação, ter outro bebê, usando os óvulos da Mama B, pois talvez estejamos mais estabilizadas financeiramente.
Ainda tenho uma pontinha daqueles receios que citei acima, pois não quero passar por cima dos sonhos da Mama B, mas tenho fé em Deus que seremos quatro em breve, e completas.
Agora começa outra busca...onde encontrar o sêmem do doador, como escolher, como importar, será mesmo anônimo, escolheremos caucasiano para ficar também parecido com a Mama B?
Ainda temos tempo para responder a todas essas perguntas. Decidimos que iremos organizar algumas coisas em nossa vida antes da inseminação, como: terminar o pós-doutorado, quitar os dois apartamentos, abrir um novo negócio, terminar a especialização, fazer a mudança para o novo apartamento, comprar um carro maior, fazer uma mudança de hábitos alimentares e exercícios físicos, etc. Tudo isso são obrigações conjuntas, que já estão se encaminhando e não levará muito tempo para serem realizadas, mas pensamos que nossa vida precisa estar mais organizada para nosso bebê ter mais atenção ao chegar.
Abraços a todos e torçam por nós!

P.S.: Agradeço a todos os casais que têm enviado mensagens e comentários para nós. Desejamos muita sorte e felicidade a todos vocês. Gostaríamos muito de fazer amizade com outras famílias homo e trocar informações e experiências. Abraços!